Maiko de Sousa, 24 anos, saiu de seu estado e viajou de avião pela primeira vez, com destino à capital federal. O motivo da viagem foi um encontro com autoridades e com jovens como ele: indígenas. Maiko, ou Azwrui, como é conhecido na tribo dos guajajaras, no Maranhão, enfrentou o medo de avião para vir expressar ao Brasil as necessidades e preocupações dos adolescentes e jovens indígenas nas áreas da educação, trabalho, saúde e cultura.
Para os 35 jovens de diversos povos que estão em Brasília, a oportunidade de debater os desafios para a educação escolar indígena veio nesta quinta-feira, 20. Maiko e sua colega Luciene Chaves de Jesus, da tribo Pataxó, representando os adolescentes, leram uma carta ao ministro da Educação, Fernando Haddad, ao secretário de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade, André Lázaro, e à representante do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) no Brasil, Mairie-Pierre Poirier.
Entre vários assuntos, a carta apresenta propostas para a melhoria da educação nas aldeias. Um dos anseios dos jovens é por maior oportunidade de acesso ao ensino superior. “Tudo o que for tratado sobre os índios tem que ter nossa participação, porque nós conhecemos nossas verdadeiras necessidades”, destaca Maiko.
Fernando Haddad afirma que um dos eixos do Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE) é voltado para a diversidade. “Temos um atraso a ser superado em relação a essa questão”, explica. O ministro ainda ressalta que a ajuda dos indígenas é fundamental para a implementação de políticas públicas efetivas. “Quanto mais estivermos unidos, mais rápido conseguiremos superar esse atraso.”
Ao final da reunião, três jovens entregaram colares indígenas às autoridades. Maicon Santos Soares (Kâhu Wêrimehi) tem 17 anos e cursa o último ano do ensino médio. Ele é pataxó, de Coroa Vermelha (BA), e foi quem deu o presente ao secretário André Lázaro, que considerou o gesto como uma aproximação entre o MEC e os índios. “Já o nosso 'colar' para vocês é dar uma boa educação escolar indígena”, disse Lázaro aos adolescentes.
Encontro — Os jovens estão em Brasília desde o dia 18. Eles participam do 2º Encontro Nacional dos Povos das Florestas, no Centro de Convenções, que vai até o dia 23, e reúne índios de diversas idades, povos e referências culturais. Eles falam diferentes línguas, mas têm um mesmo objetivo: garantir que seus direitos sejam assegurados.
Seringueiros, ribeirinhos, pescadores e organizações da sociedade civil também foram convidados a participar do encontro. A primeira edição foi há quase 20 anos, sob a influência do líder seringueiro Chico Mendes. O desafio hoje é a unificação dos interesses dos povos que vivem na Amazônia, caatinga, mata atlântica, cerrado, pampa e pantanal. Além da conservação da floresta e da distribuição de renda, as discussões enfocam temas como mudanças climáticas e grandes obras de infra-estrutura. Mais de três mil pessoas participam do evento.
20/09/2007 19:05
Letícia Tancredi